Festival de Curtas começa hoje em São Paulo com filmes de 60 países
Evento debate avanços do Manifesto Dogma Feijoada pelo cinema negro
Começa nesta quinta-feira (21), na capital paulista, mais uma edição do tradicional Festival Internacional de Curtas de São Paulo (Kinoforum). O festival é gratuito e acontece até o dia 31 de agosto. Esta edição será marcada por uma homenagem à sua fundadora, a cineasta Zita Carvalhosa, e pela celebração dos 25 anos do lançamento do Manifesto Dogma Feijoada, que construiu avanços para o cinema negro brasileiro.
Neste ano, o festival vai apresentar 253 curtas de 60 países. Entre eles, há títulos internacionais e inéditos, como Que Bom Que Você Morreu, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes, além de Quem Ama o Sol, vencedor de melhor curta na mostra Orizzonti do Festival de Veneza.
Já entre os nacionais, estão os inéditos Homenagem A Kiarostami e Mensagem de Sergipe, os dois últimos curtas produzidos por Jean-Claude Bernardet, que morreu no mês passado. Também está programada a estreia nacional de Filme Sem Querer, de Lincoln Péricles, um dos nomes mais importantes do cinema de periferia de São Paulo.
“O festival já tem uma história muito sólida na cidade de São Paulo e carrega o legado da Zita Carvalhosa, que sempre acreditou na força do curta-metragem como espaço de experimentação e descoberta de novos olhares. De fato, o Kinoforum tem um lugar guardado no imaginário dos cineastas e do público que frequenta o festival. São frequentadores que se renovam a cada ano, algo que reconhecemos ao ver sempre os rostos jovens que acompanham o evento”, disse Vânia Silva, coordenadora-geral e diretora executiva do festival.
A seleção deste ano, dizem os organizadores do evento, apresenta um panorama vibrante do cinema atual, revelando tendências, narrativas urgentes e experimentações estéticas de todo o mundo, com uma diversidade de origens e de temáticas.
“Temos sempre uma preocupação e uma ambição de poder apresentar ao nosso público uma janela para o estado do mundo, um espaço que permita conhecer novas visões, refletindo e questionando ideias estabelecidas”, disse Marcio Miranda Perez, coordenador-geral do festival e também diretor de programação.
“Este conceito está, inclusive, representado na arte do cartaz do festival, que coloca uma figura humana diante de uma nuvem de texturas, que simboliza esse turbilhão efervescente de ideias. Nos curtas deste ano, percebemos uma grande preocupação com a instabilidade do nosso tempo, explorando conflitos e choques culturais, mas também muitas crônicas do Brasil atual, sob diversas perspectivas”, completou ele, em entrevista à Agência Brasil.

Frame do curta 12 momentos antes da cerimônia de hasteamento da bandeira Divulgação/Festival Internacional de Curtas
Dogma Feijoada
Neste ano, o evento ainda vai celebrar os 25 anos do Manifesto Dogma Feijoada, que propõe um cinema feito e pensado por cineastas negros. Para celebrar a data, o festival vai promover um debate com a presença de alguns dos idealizadores do manifesto, como Jeferson De, Lilian Solá Santiago e Noel Carvalho.
“O Dogma Feijoada foi um manifesto lançado na edição do ano 2000 do Festival de Curtas. Encabeçado por cineastas como Jeferson De, Lilian Solá Santiago e Noel Carvalho, entre outros, o manifesto denunciava a insuficiente presença negra na história do cinema brasileiro. Essa discussão se ramificou e, desde então, muita coisa mudou nesse panorama”, explicou Perez.
Passados 25 anos desse manifesto, disse o coordenador, o evento deste ano “propõe uma reflexão sobre passado e presente da produção do audiovisual negro”, oferecendo dois programas de curtas e uma mesa onde os idealizadores do Dogma farão uma reflexão sobre esse cenário.
Outros destaques da edição deste ano são mostras dedicadas ao cinema de animação realizado por mulheres do Leste Europeu e ao som no cinema, além de curtas realizados na África e uma mostra toda dedicada ao cinema fantástico e de horror.
Além disso, o Kinoforum promove uma mostra toda voltada a crianças e adolescentes, com narrativas repletas de magia, fantasia e vivências. Entre os destaques está o curta Uma Menina, Um Rio, de Renata Martins Alvarez, que foi inspirado em livro homônimo. Esse curta será tema de uma atividade especial de contação de histórias com a diretora e o autor, Lúcio Goldfarb, na Cinemateca Brasileira. Outro destaque é o curta Fantasma do Boleto, uma comédia que foi criada por estudantes da rede pública durante uma oficina promovida pelo festival.

Frame do curta-metragem Sem Querer Divulgação/Festival Internacional de Curtas
Zita Carvalhosa
Fundadora e idealizadora do Kinoforum, Zita Carvalhosa, que morreu em julho, vai ser a grande homenageada desta edição. Uma mostra especial será dedicada à sua trajetória como produtora e ao impacto decisivo que teve no cinema brasileiro e na formação de novas gerações.
“A Zita tinha a capacidade de transformar o curta em uma plataforma de liberdade criativa, sempre com generosidade e abertura para novas vozes. Esse tributo é também uma forma de manter vivo o espírito dela, que é o coração do festival”, disse Vânia.
Chamada de Zita Carvalhosa, Mulher de Cinema, a mostra reúne uma seleção de sete curtas realizados pela produtora, destacando seu papel fundamental na construção do festival e seu pioneirismo como mulher em um campo marcado pela predominância masculina.
A mostra destaca também a atuação de Zita como produtora de curtas-metragens de relevância histórica e artística, reafirmando seu papel essencial na consolidação do curta como linguagem autônoma e campo fértil para a experimentação e o surgimento de novas vozes no cinema brasileiro.
“Homenagear a Zita Carvalhosa é reconhecer a pessoa que fez do Festival de Curtas-Metragens de São Paulo uma referência nacional e internacional. Ela acreditava profundamente no curta como forma de expressão artística e como porta de entrada para novos cineastas”, destacou Vânia, que acredita que ela será sempre lembrada pela dedicação ao fomento de novos talentos, inclusive proporcionando acesso à produção audiovisual para jovens das periferias de São Paulo, por meio das Oficinas de Realização Audiovisual Kinoforum.
Outras atividades
Além da exibição de filmes, o Kinoforum também vai promover atividades paralelas, como debates e rodas de conversa sobre a circulação, o financiamento e a comercialização de curtas-metragens. Há também laboratórios para o desenvolvimento de projetos de curta e longa-metragem e um encontro sobre internacionalização do curta-metragem, que contará com a participação de curadores internacionais.
O festival também vai promover o programa Cinema na Comunidade, levando sessões de curtas para diversos bairros da cidade de São Paulo, em uma tentativa de democratizar o acesso e ampliar a formação de público.
“Este ano, além de uma programação forte de filmes, sempre de olho nas novas vertentes e tendências do cinema antecipadas pelas inovações do formato curta-metragem, o Kinoforum investiu em uma série de atividades voltadas para o pensar e o fazer cinematográfico”, destacou Perez.
O coordenador acrescenterá que o evento terá happy hours na Cinemateca, onde o público pode se encontrar com os realizadores, e diversos outros eventos para provocar a troca e a intercâmbio. “O festival é uma oportunidade única que converge diferentes pessoas para celebrar o cinema diante da tela grande, e buscamos aproveitar ao máximo essa oportunidade”
A programação do evento ocorre em diversos espaços culturais, como a Cinemateca Brasileira, o CineSesc, o Circuito Spcine, o Museu da Imagem e do Som (MIS), o Espaço Petrobras de Cinema, e o Cinusp. Mais informações sobre o festival e sua programação completa podem ser acessados pelo site.
Por Agência Brasil
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