17 de novembro de 2025
Concurso e TrabalhoDireito e cidadaniaEmpresas, Economia e MercadoNoticia, Política e Governo

Baixa adesão marca o Dia D de Contratação de Pessoas com Deficiência em Goiás

Mesmo com mais de 400 vagas disponíveis, o Dia D de Contratação de Pessoas com Deficiência registrou baixa adesão e expôs o desafio de transformar oportunidades em contratações efetivas. O evento foi promovido pelo SEAC-GO e SINDESP-GO com apoio do TRT-18

O Dia D de Contratação de Pessoas com Deficiência, promovido pelo Sindicato das Empresas de Asseio, Conservação, Limpeza Urbana e Terceirização de Mão de Obra do Estado de Goiás (SEAC-GO) e pelo Sindicato das Empresas de Segurança Privada, de Transporte de Valores e de Cursos de Formação do Estado de Goiás (SINDESP-GO), reuniu 408 vagas de emprego em diferentes funções. Apesar da ampla oferta, da realização em ambiente público e totalmente acessível, apenas oito candidatos compareceram, sendo um deles sem deficiência.

Na edição anterior do evento, realizada em 2024, as empresas ofertaram mais de 530 vagas, mas apenas 31 candidatos participaram — 28 deles pessoas com deficiência. Após um mês, sete contratações foram efetivadas. O cenário reforça um desafio persistente no mercado: a dificuldade em aproximar pessoas com deficiência das oportunidades de trabalho disponíveis.

Durante a abertura do evento, o Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-18), Desembargador Eugênio Cesário, destacou que, embora a legislação garanta cotas de contratação de pessoas com deficiência, muitas empresas enfrentam barreiras para preencher essas vagas — não por falta de vontade, mas pela escassez de candidatos interessados ou aptos às funções disponíveis. “Já julgamos aqui inúmeras ações do Ministério Público do Trabalho contra entidades por não cumprirem as cotas legais de contratação de pessoas com deficiência. E, muitas vezes, as empresas afirmam que não conseguem encontrar profissionais para preencher essas vagas”, explicou o magistrado.

“Há casos em que simplesmente não há candidatos habilitados para exercer determinadas funções. O desafio não é só jurídico, é social. Precisamos de políticas e incentivos que realmente aproximem essas pessoas do mercado de trabalho”, destacou o Desembargador. Ainda segundo ele, a Justiça do Trabalho em Goiás é a casa do trabalhador e do empresário e que iniciativas como o Dia D buscam justamente equilibrar o direito à inclusão com a realidade do mercado. “Eventos como este são fundamentais para que possamos alinhar as obrigações legais com as possibilidades reais de contratação. É um convite público: que as pessoas com deficiência que queiram trabalhar se apresentem. O mercado precisa delas.”

Durante o evento, o Superintendente regional do Trabalho em Goiás, Nivaldo dos Santos, que também prestigiou a ação promovida pelo SEAC e SINDESP destacou a importância do protagonismo empresarial na inclusão. “O que os sindicatos fazem hoje é de grande importância: mostrar para as empresas que é possível oferecer novas formas de acesso ao trabalho. A inclusão não se faz apenas com leis, mas com criatividade, acolhimento e compromisso. Todos devem ter direito de acesso, inclusão e permanência no trabalho”, pontuou.

Histórias que inspiram

Entre os participantes do mutirão estavam pessoas com diferentes tipos de deficiência e trajetórias de superação. O cadeirante Rogério Oliveira Martins da Costa celebrou o evento como uma oportunidade de inclusão verdadeira. “É um evento bem organizado, que dá muita possibilidade de inclusão. Apoio a inclusão desde que seja bem feita, com espaços acessíveis, banheiros adaptados e rampas adequadas. Já melhorou muito, mas ainda há o que avançar”, avaliou Rogério, que recebeu uma proposta de contratação durante o evento.

O deficiente auditivo Jesséles de Oliveira, de 34 anos, estava desempregado há seis meses e conseguiu se recolocar no mercado de trabalho por meio do mutirão. Ele buscava uma vaga de auxiliar de limpeza e elogiou a estrutura da ação. “Gostei da entrevista, da procura, da promoção, da inclusão. Tinha várias vagas que eu queria, e foi bom ver esse incentivo à acessibilidade”, afirmou com o apoio do intérprete de Libras. Já o vigilante Filomeno Neto, que tem visão monocular, foi contratado na hora. “É muito importante para todos nós, principalmente para quem é PCD. Essa oportunidade é tudo que eu precisava para complementar o sustento da minha família”, comemorou.

Setor produtivo reforça compromisso, mas aponta desafios

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiás tem cerca de 482 mil pessoas com deficiência, o que representa 7% da população com dois anos ou mais de idade. Deste total, 7,8% são mulheres e 6,2% são homens. Apesar da existência de políticas públicas e da ampliação das vagas em diferentes setores, a inclusão profissional ainda enfrenta barreiras. Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que mais de 101 mil goianos recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) voltado à pessoa com deficiência — o que evidencia um desafio: transformar o amparo assistencial em oportunidade de autonomia e desenvolvimento pessoal.

Para o presidente do SEAC-GO, Paulo Gonçalves da Silva, o evento reafirma o compromisso do setor com a inclusão, mas também revela a necessidade de maior engajamento social. “O setor de asseio e conservação tem ampliado seus esforços para criar oportunidades. Mas é preciso que as pessoas com deficiência também se aproximem dessas vagas. O desafio é conjunto: empresas, poder público e sociedade precisam trabalhar lado a lado para transformar oportunidades em contratações reais”, afirmou.

O presidente do SINDESP-GO, Ivan Hermano Filho, destacou a importância de manter a pauta ativa e fortalecer a cultura da inclusão. “Mais do que cumprir cotas, queremos construir ambientes de trabalho que acolham e valorizem. A baixa adesão mostra que ainda há um caminho a percorrer, e é justamente por isso que ações como o Dia D continuam sendo fundamentais”, ressaltou. “Nosso evento reafirmou o compromisso dos setores de asseio, conservação, vigilância e segurança privada com a construção de um mercado de trabalho mais inclusivo, acessível e humano — mesmo diante de um cenário que ainda exige esforço conjunto para transformar oportunidades em efetiva participação.”

Para o deputado estadual Virmondes Cruvinel, presidente da Comissão de Empreendedorismo e Cidades Inteligentes da Assembleia Legislativa de Goiás, reforçou a necessidade de tratar a inclusão de forma estruturada e contínua. O parlamentar esteve presente durante a ação e alertou que a pauta tem de ser discutida permanentemente. “Integrar pessoas com deficiência ao mundo do trabalho não é favor, é justiça e inteligência social. É preciso criar uma engrenagem em que a inclusão venha acompanhada de acessibilidade, mobilidade e condições reais de trabalho. Essa é uma pauta que precisa ser permanente”, destacou o parlamentar.

Por Luciana Kasane

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *