7 de setembro de 2025
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Consumo excessivo de proteína pode comprometer a saúde, alertam especialistas

Pesquisas revelam que a febre da proteína pode estar trazendo riscos; entenda

A busca pelo corpo perfeito e pelo envelhecimento saudável transformou a proteína em protagonista das dietas modernas. Nos Estados Unidos, o consumo deste macronutriente virou quase uma obsessão: segundo o International Food Information Council, 71% dos norte-americanos declararam, em 2024, que querem aumentar a ingestão de proteína — um salto em relação aos 52% registrados em 2022.

Impulsionada por influenciadores digitais e pela indústria de suplementos, a tendência alcançou níveis inéditos. Barrinhas hiperproteicas, pós concentrados e até cortes de peixe “premium” passaram a ser vendidos como símbolos de saúde e longevidade. No entanto, especialistas alertam que esse entusiasmo pode estar mascarando riscos sérios.

“Embora a ingestão proteica esteja diretamente relacionada à síntese proteica muscular e ao ganho de massa magra, isso não implica que quantidades excessivas resultam em maiores benefícios. O organismo possui limites fisiológicos bem definidos para a utilização eficiente das proteínas”, explica o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles.

A recomendação oficial de ingestão de proteína é de 0,8 g por quilo de peso corporal ao dia, segundo a Organização Mundial da Saúde. Para pessoas que praticam exercícios de força, estudos indicam benefícios até 1,6 g/kg/dia. Ainda assim, influenciadores como Peter Attia chegam a sugerir até 2,2 g/kg/dia — quase o triplo da dose recomendada.

Médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles

Pesquisas recentes, no entanto, mostram que não há evidências robustas para apoiar esse consumo elevado. “Evidências provenientes de ensaios clínicos controlados indicam que a ingestão proteica acima de 1,6 g/kg/dia não promove ganhos adicionais significativos em termos de hipertrofia ou força muscular. Além disso, a ingestão proteica excessiva pode estar associada a efeitos adversos, como aumento de marcadores inflamatórios e maior risco cardiovascular, especialmente em indivíduos predispostos”, reforça José Israel.

Estudos em modelos animais e em populações humanas vêm apontando a leucina, aminoácido presente em grande quantidade em carnes, ovos e laticínios, como um dos principais culpados por ativar mecanismos inflamatórios ligados à aterosclerose. Outros trabalhos mostram ainda associação entre dietas ricas em proteína animal e maior mortalidade por doenças crônicas.

Apesar do alerta, muitas pessoas acreditam que estão ingerindo menos proteína do que deveriam — o que não corresponde à realidade. Dados do USDA, órgão agrícola norte-americano, mostram que 85% da população já consome acima do necessário.

“O conceito amplamente difundido de uma suposta ‘deficiência proteica’ na população geral tem sido reforçado por estratégias de marketing da indústria e por desinformações propagadas nas redes sociais. No entanto, na prática clínica e segundo dados epidemiológicos, observa-se que a maioria das pessoas consome proteína em quantidades superiores às suas necessidades fisiológicas, sem que isso resulte em benefícios adicionais à saúde ou à composição corporal”, afirma o médico.

Ele lembra ainda que o corpo não possui estoques de proteína. O excedente é quebrado, transformado em uréia e eliminado pela urina. “Em outras palavras, além de não promover benefícios adicionais, a ingestão excessiva de proteínas pode impor uma sobrecarga funcional a órgãos como os rins, favorecendo alterações no metabolismo nitrogenado e elevando o risco de doenças metabólicas, especialmente em indivíduos com predisposição”, completa o especialista.

O consenso entre pesquisadores é claro: uma dieta equilibrada, variada e ajustada ao nível de atividade física é suficiente para garantir a saúde. “A principal lição que emerge dessa discussão é que a proteína, isoladamente, não deve ser encarada como sinônimo de saúde. Fatores como a prática regular de treinamento resistido, a qualidade e duração do sono, e uma alimentação predominantemente baseada em vegetais demonstram ter impacto significativamente superior sobre a longevidade e a saúde global do que o consumo excessivo de suplementos proteicos, como barras e shakes”, conclui José Israel.

Por Carlos Nathan Sampaio

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