Hipervitaminose: quando o cuidado com a saúde se torna risco
A busca por saúde e bem-estar tem se consolidado como um fenômeno social contemporâneo, e a indústria de suplementos vitamínicos ocupa papel central nesse processo.
Atualmente, não apenas farmácias, mas também supermercados e academias exibem uma ampla variedade de produtos que prometem ganhos em energia, fortalecimento da imunidade e até aumento da longevidade. Entretanto, a adesão crescente a esses compostos, muitas vezes sem qualquer respaldo técnico, tem sustentado a equivocada ideia de que maiores doses resultariam em maiores benefícios. É nesse ponto que emerge um risco frequentemente negligenciado: a hipervitaminose.
Ao contrário da deficiência vitamínica, amplamente reconhecida e alvo de campanhas de saúde pública, os riscos associados ao excesso de vitaminas permanecem subestimados. A hipervitaminose pode provocar repercussões graves, que variam de acordo com a substância envolvida. O acúmulo de vitamina A, por exemplo, está relacionado a hepatotoxicidade e alterações ósseas; a vitamina D, em doses elevadas, aumenta a probabilidade de nefrolitíase e complicações cardiovasculares; enquanto a vitamina E, quando utilizada sem indicação, pode comprometer os mecanismos de coagulação sanguínea.

Um aspecto particularmente preocupante é que muitas dessas vitaminas pertencem ao grupo das lipossolúveis, armazenando-se no fígado e no tecido adiposo, o que favorece seu acúmulo progressivo no organismo. Dessa forma, mesmo uma ingestão considerada “moderada”, quando contínua e sem indicação clínica, pode resultar em complicações significativas. A dificuldade se acentua pelo fato de que os sintomas iniciais — como fadiga, náuseas e cefaleia — são inespecíficos e frequentemente atribuídos a outras condições, retardando o reconhecimento da hipervitaminose.
O marketing agressivo em torno da “vitamina da moda” intensifica esse cenário. Influenciadores digitais e até profissionais sem formação adequada frequentemente reforçam a falsa noção de que tais suplementos seriam indispensáveis ao cotidiano. Contudo, as evidências apontam que, para a maioria da população, uma alimentação balanceada — composta por frutas, legumes, proteínas de qualidade e associada à exposição solar moderada — é suficiente para suprir as necessidades vitamínicas e preservar o equilíbrio orgânico.
É fundamental compreender que vitaminas não constituem aditivos inofensivos, mas sim compostos bioativos capazes de interagir com mecanismos fisiológicos complexos. Quando utilizadas sem acompanhamento médico, perdem seu papel de aliadas da saúde e podem assumir a condição de agentes silenciosos de adoecimento
Portanto, antes de adquirir mais um frasco que promete benefícios imediatos, é necessário questionar: o organismo realmente necessita desse suplemento? A forma mais eficaz de prevenir a hipervitaminose permanece simples e acessível: recorrer à avaliação profissional, realizar exames periódicos e evitar a crença em soluções milagrosas. Em saúde, o excesso pode ser tão nocivo quanto a carência
José Israel Sánchez Robles é médico intensivista e nutrólogo
Por Carlos Nathan
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