31 de maio de 2025
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Maio Amarelo 2025: impacto letal do excesso de velocidade nas vias brasileiras motiva campanha

Com base em dados alarmantes e casos recentes, engenheiro de transportes e especialista do Mova-se Fórum de Mobilidade, Matheus Duarte, destaca a urgência de medidas estruturais para conter a imprudência no trânsito

Dados do Anuário Estatístico da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam que o Brasil ultrapassou a marca de 6,5 milhões de infrações de trânsito registradas nas rodovias federais em 2024, das quais, sozinho, o excesso de velocidade responde por quase 90% das autuações. O cenário reforça que comportamentos arriscados ao volante seguem sendo uma constante nas rodovias brasileiras. E, para o engenheiro de transportes e especialista do Mova-se Fórum de Mobilidade, Matheus Duarte, o excesso de velocidade é um dos fatores diretamente ligado ao aumento de sinistros, já que pelo quarto ano consecutivo, o país registrou um aumento no número de mortes e de sinistros.

Imagem: divulgação internet

Nesse contexto, a campanha Maio Amarelo – movimento internacional de conscientização para redução de sinistros de trânsito – adota, em 2025, o tema “Desacelere: Seu bem maior é a vida”, no intuito de alertar para a gravidade do excesso de velocidade nas vias. De acordo com a  Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), um aumento de apenas 1% na velocidade média de um veículo pode resultar em um aumento de 4% no risco de colisões fatais. “O dado, no entanto, é distorcido pela experiência pessoal ou pela confiança em habilidades individuais, o que leva os condutores a assumirem riscos injustificáveis, a partir de uma escolha consciente”, afirma o especialista.

Segundo Matheus, o alerta é urgente porque não é difícil correlacionar a liderança das autuações por excesso de velocidade e a gravidade dos acidentes registrados no Brasil e no mundo. Ele lembra que a OPAS – agência internacional que é ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS) – atribui à velocidade excessiva cerca de um terço de todas as mortes que ocorrem no trânsito em países de alta renda e metade delas em países de baixa e média renda. Por essa razão, destaca que campanhas educativas, como o Maio Amarelo, precisam repensar o foco exclusivo na responsabilidade individual. “A psicologia social mostra que, muitas vezes, o medo da reprovação coletiva é mais eficaz do que alertas baseados apenas no risco pessoal”, avalia.

Soluções

Para melhorar a segurança viária no Brasil e reduzir os números críticos de sinistros letais, bem como as autuações por velocidade excessiva, Matheus Duarte sugere a adoção de estratégias como a política Visão Zero, que foi implementada com sucesso na Suécia, a partir de uma mudança de paradigma de não apenas evitar todos os acidentes, mas garantir que nenhum deles resultasse em morte ou ferimentos graves. “A segurança no trânsito, nesse modelo, passa a ser um dever compartilhado entre usuários, planejadores e gestores públicos”, explica.

Outra estratégia essencial apontada pelo especialista é o envolvimento da sociedade nas ações, iniciativas e nas políticas públicas. “A participação direta na discussão sobre segurança viária tem se mostrado uma ferramenta poderosa para sensibilizar tanto os gestores públicos quanto a população em geral. Além disso, promove o sentimento de pertencimento no processo de decisão e maior respeito às intervenções implementadas. Criar zonas escolares seguras, faixas de pedestres bem-sinalizadas e ciclovias, além de pedestralizar ruas e implementar áreas com velocidade reduzida são medidas concretas que salvam vidas”, pontua.

Matheus observa ainda que os indicadores de avaliação de campanhas como o Maio Amarelo devem ir além da simples contagem de acidentes. “É preciso monitorar o número de mortes e lesões graves por excesso de velocidade, o volume de infrações registradas, a percepção pública sobre segurança viária e a quantidade de intervenções estruturais efetivadas, como a readequação de vias e a instalação de fiscalizações em pontos críticos”, analisa. E conclui: “Acima de tudo, o sucesso da campanha não pode ser medido apenas pela mobilização pontual ao longo do mês de maio, mas sim, pela sua capacidade de gerar uma transformação estrutural e cultural no trânsito brasileiro”.

Sobre o Mova-se Fórum Nacional de Mobilidade  

O Mova-se Fórum Nacional de Mobilidade foi criado em 2021 por especialistas em mobilidade urbana de diversas áreas, com o intuito de discutir e contribuir com soluções para a mobilidade do Brasil. O grupo, que começou com quatro integrantes e hoje conta com mais de 600 profissionais – entre técnicos, pesquisadores e professores do segmento no país –, tornou-se destaque em pesquisas e desenvolvimento de conhecimento sobre transporte público, pedestres, vias inteligentes e temas relacionados.

Por Mariana Rodrigues

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