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Saúde: sintomas da Apendicite (adultos, idosos, crianças e bebês)

Resumo do artigo: TL; DR

QUEM PODE TER APENDICITE?

Apendicite é o nome que damos à inflamação do apêndice, uma pequena extensão do intestino, em formato de dedo de luva, localizada na primeira porção do cólon.

A apendicite é bastante comum, acometendo cerca de 7% da população, o que a torna uma das principais emergências médicas em todo o mundo. A inflamação do apêndice geralmente surge entre os 10 e 30 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade, apesar de ser rara nas crianças com menos de 2 anos.

Neste artigo trataremos exclusivamente dos possíveis sintomas da apendicite nos adultos, idosos e crianças. Se você procura informações mais abrangentes sobre a apendicite, incluindo suas causas, meios diagnósticos e formas de tratamento, acesse o seguinte link: Apendicite: sintomas, causas e tratamento.

SINTOMAS DA APENDICITE NOS ADULTOS

Os 10 sinais e sintomas mais comuns da apendicite nos adultos são:

  1. Dor abdominal: presente em cerca de 100% dos casos
  2. Dor abdominal que se inicia ao redor do umbigo e em questão de horas migra para o quadrante inferior direito do abdômen: 50%.
  3. Enrijecimento da parede do abdômen: 70%.
  4. Enjoos: 80 a 90%.
  5. Vômitos: 75%.
  6. Perda do apetite: 90%.
  7. Febre: 45%.
  8. Diarreia: 20%
  9. Prisão de ventre: 20%
  10. Leucocitose (aumento do número de leucócitos no hemograma): 80%.

Nem todos os sinais e sintomas listados acima estão necessariamente presentes nos pacientes com apendicite aguda. Alguns deles, tais como diarreia, prisão de ventre ou distensão abdominal, ocorrem em menos da metade dos casos.

A seguir, falaremos com mais detalhes sobre cada um desses 10 sintomas, demonstrando a sua importância para o diagnóstico da apendicite. Descreveremos primeiramente o quadro clínico da apendicite nos adultos e depois nos idosos, crianças e bebês.

Dor abdominal

O sintoma mais típico, presente em praticamente 100% dos casos de inflamação do apêndice, é a dor abdominal. Como essa dor pode ser causada por dezenas de problemas diferentes, conhecer as características típicas da dor da apendicite é importante para o seu diagnóstico.

O apêndice é um órgão com tamanho e localização variáveis. A sua proximidade com outros órgãos da pelve e do abdômen pode fazer com que os sintomas de apendicite sejam confundidos com os de outras doenças. A dor abdominal do apêndice costuma fazer diagnóstico diferencial com vários outros problemas do abdômen ou da pelve, incluindo diverticulite, torção do ovário, gravidez ectópica e até cálculo renal.

a) Dor típica da apendicite

O apêndice em si é um órgão mal inervado. Por isso, no início de um quadro de apendicite, quando a inflamação se restringe apenas ao apêndice, o cérebro tem dificuldade em reconhecer o local exato do trato intestinal em sofrimento. Apesar de o apêndice se localizar no quadrante inferior direito do abdômen, a dor decorrente da apendicite, nas suas primeiras 6 a 8 horas, costuma localizar-se ao redor do umbigo. O paciente não consegue determinar com exatidão o local que dói. Quando questionado, ele faz um movimento circular com o dedo indicador ao redor do umbigo.

Ao longo das primeiras 24 horas, conforme a inflamação se agrava e passa a atingir não só o apêndice, mas também as alças intestinais ao seu redor e o peritônio (membrana que envolve o trato gastrointestinal), o cérebro começa a receber mensagens mais precisas do local afetado, tornando-se claro para o paciente que há algum problema na região inferior direita do abdômen.

Esse padrão de dor mal localizada ao redor do umbigo, que em questão de horas migra para o quadrante inferior direito do abdômen, tornando-se restrita a um ponto bem determinado, é o sintoma mais típico da apendicite, ocorrendo em mais de 60% dos casos. Toda vez que um médico atende um paciente com esse tipo de dor, a hipótese de apendicite deve ser priorizada.

Quando o peritônio é acometido, a dor da inflamação do apêndice intensifica-se, e a palpação do abdômen torna-se muito dolorosa. A dor costuma também agravar-se quando o paciente tosse, tenta andar ou fazer qualquer movimento brusco com o tronco.

Ao exame físico, há um sinal típico da apendicite aguda chamado dor à descompressão ou sinal de Blumberg. Esse sinal é investigado da seguinte maneira: pressionamos com a mão a região inferior direita do abdômen e perguntamos ao paciente se ele sente dor. Em geral, a resposta é sim. Em seguida, retiramos de forma súbita a mão que pressionava a barriga e observamos o comportamento do paciente. Quando há apendicite, com irritação do peritônio, essa rápida retirada da mão provoca intensa dor no local, bem mais forte que aquela provocada pela compressão do abdômen.

Localização típica da dor da apendicite

Ainda no exame físico, outro achado comum é um enrijecimento da musculatura abdominal. Quando o paciente apresenta um processo inflamatório intra-abdominal, a tendência é haver uma contratura involuntária dos músculos naquela região, sinal que chamamos de defesa abdominal. Ao se palpar o abdômen de um paciente com apendicite, nota-se que a parede abdominal à direita se encontra endurecida e bastante dolorida.

b) Outros padrões de dor

Quando o paciente se apresenta ao serviço de emergência com a típica dor da apendicite, poucos médicos têm dificuldade em estabelecer o diagnóstico. O problema ocorre quando o paciente apresenta padrão atípico de dor ou não consegue descrever os seus sintomas de forma adequada, como nos casos de crianças muito pequenas ou idosos com demência. Pacientes imunossuprimidos, por não desenvolverem processos inflamatórios exuberantes, também podem ter apresentações atípicas da apendicite.

Em cerca de 15% das pessoas o apêndice localiza-se mais posteriormente, fazendo com que o local da dor da apendicite seja diferente. Em vez da típica dor no quadrante inferior direito, o paciente pode queixar-se de dor lombar à direita, dor no quadrante superior direito ou dor em todo o flanco direito.

Há também aqueles pacientes com apêndices mais baixos, cuja ponta se estende até a região da pelve. Nesses casos, a dor pode ser na virilha à direita, no ânus ou na região púbica. Evacuar ou urinar podem exacerbar da dor.

c) Apendicite com dor no lado esquerdo do abdômen

Como vocês já devem ter notado, mesmo nos casos atípicos, a dor da inflamação do apêndice costuma ficar restrita ao lado direito do abdômen. Apesar de raro, é possível que o paciente com apendicite tenha dor do lado esquerdo do abdômen, caso o apêndice seja mais comprido que o habitual e estenda-se até o lado esquerdo da cavidade abdominal. Porém, apendicite não deve ser a primeira hipótese diagnóstica nos pacientes com dor abdominal no lado esquerdo, exceto nos raros casos de situs inversus (condição rara na qual os pacientes apresentam órgãos do tórax e abdômen em posição oposta àquela esperada).

Se você procura informações sobre os tipos e as mais frequentes causas de dor abdominal, acesse: 40 Causas de dor abdominal (dor na barriga).

Náuseas, vômitos e perda do apetite

Náuseas, vômitos e perda do apetite costumam vir em conjunto logo após o início da dor abdominal. Esse mal-estar costuma ocorrer em até 90% dos casos de apendicite.

Como todos sabem, náuseas, com ou sem vômitos, e perda do apetite são sintomas muito inespecíficos, presentes em vasta diversidade de problemas médicos. Porém, quando associados a dor abdominal periumbilical que se agrava e migra para o quadrante inferior direito dentro de 24 horas, aumenta-se muito a probabilidade de apendicite.

A tríade clássica de sintomas da apendicite é dor abdominal, vômitos e perda do apetite.

Febre

A febre não costuma estar presente nas primeiras horas de evolução, principalmente nas crianças e nos idosos. Algumas pessoas, porém, podem ter febre baixa, com temperaturas ao redor de 37,5ºC e 38ºC.

Geralmente, febre elevada não ocorre nos quadros de inflamação do apêndice, exceto nas situações mais graves, quando há perfuração do apêndice e extravasamento de material fecal dos intestinos para dentro da cavidade abdominal, o que gera intensa reação inflamatória e grave infecção.

Diarreia ou prisão de ventre

Diarreia significativa é incomum na apendicite. Quando presente, o médico deve considerar outros diagnósticos prioritariamente, embora não deva excluir totalmente a possibilidade de apendicite.

Pacientes cujo apêndice se localiza mais próximo da região pélvica podem ter diarreia, caso a inflamação da apendicite acometa também o reto. Em geral, porém, o que o paciente tem não é propriamente diarreia, mas, sim, um aumento na frequência das evacuações, sem necessariamente haver grandes perdas de fezes líquidas.

Assim como a diarreia, a constipação intestinal não é sintoma típico da apendicite aguda. Embora a maioria dos pacientes não a tenha, isso não significa que a inflamação do apêndice possa ser descartada.

Leucocitose

A leucocitose, identificada por meio de exames de sangue, refere-se ao aumento do número de leucócitos no sangue, um dos tipos de células mais importantes do nosso sistema imune. Quando há infecção ou processo inflamatório extenso, uma das primeiras providências tomadas por nosso sistema imunológico é aumentar a produção dos leucócitos.

Mais de 80% dos pacientes com apendicite aguda apresentam leucocitose no exame de hemograma. Em geral, quanto mais intensa é a leucocitose, mais extenso é o processo inflamatório.

Se você quiser entender melhor a leucocitose, leia: O que Significam Leucocitose e Neutrofilia?

SINTOMAS DA APENDICITE NOS IDOSOS

A definição do termo “idoso” não é muito clara. Convencionalmente, se considera uma idade cronológica de 65 anos ou mais, mas a Organização Mundial da Saúde sugeriu recentemente um valor de corte de 75 anos ou mais com base em melhorias na função física nos últimos 10 a 20 anos. Neste texto consideraremos idosos aqueles com idades entre 60 e 80 anos, por ser a faixa mais estudada nos estudos científicos.

Os sintomas mais comuns associados à apendicite aguda dos adultos também são observados em pacientes idosos:

A dor abdominal da apendicite nos idosos pode ser menos intensa que nos adultos jovens. Por outro lado, os sinais de peritonite – distensão abdominal, movimento reduzido da parede abdominal, sensibilidade grave, guarda localizada e generalizada – costumam ser mais evidentes nos idosos.

Devido à temperatura basal mais baixa nos idosos e a maior dificuldade de gerar uma resposta termorreguladora em resposta às infecções, a presença de febre nos idosos é bem menos comum que nos adultos e nas crianças.

ESCORE DE ALVARADO NO DIAGNÓSTICO DE APENDICITE AGUDA

O escore de Alvarado (ou escore MANTRELS), é um sistema de pontuação utilizado para auxiliar no diagnóstico da apendicite nos adultos (mais adiante fornecemos o escore para crianças). Ele é baseado em sintomas, sinais clínicos e resultados de exames laboratoriais:

  1. Sintomas:
    • Dor abdominal que migra para o quadrante inferior direito (1 ponto).
    • Anorexia (perda de apetite) (1 ponto).
    • Náuseas ou vômitos (1 ponto).
  2. Sinais clínicos:
    • Dor no quadrante inferior direito (2 pontos).
    • Sinal de rebote (dor ao liberar rapidamente a pressão no abdômen) (1 ponto).
    • Febre de 37,3 °C ou mais (1 ponto).
  3. Resultados laboratoriais:
    • Leucocitose (contagem de leucócitos acima de 10.000 por microlitro) (2 pontos).
    • Neutrofilia (mais de 70% de neutrófilos) (1 ponto).

A pontuação máxima possível é de 10 pontos. A interpretação da pontuação é a seguinte:

Este escore ajuda os profissionais de saúde a decidir sobre a necessidade de exames adicionais ou encaminhamento para avaliação cirúrgica, embora o diagnóstico final deva sempre ser baseado em uma avaliação clínica completa.

SINTOMAS DA APENDICITE EM CRIANÇAS E BEBÊS

O quadro clínico da apendicite em adolescentes é semelhante ao nos adultos. Já nas crianças com menos de 12 anos, os sintomas podem ser um pouco diferentes.

Crianças entre 5 e 12 anos

Assim como nos adultos, a dor abdominal e os vômitos são os sintomas mais comuns da inflamação do apêndice nas crianças em idade escolar, embora a característica migração da dor da região periumbilical para o quadrante inferior direito possa não ocorrer.

A frequência dos sinais e sintomas da apendicite nas crianças de 5 a 12 anos é a seguinte:

Crianças entre 1 e 5 anos

A apendicite é incomum em crianças com menos de 5 anos. Febre, vômitos, dor abdominal difusa e rigidez abdominal são os sintomas predominantes, embora irritabilidade, respiração ruidosa, dificuldade para andar e queixas de dor na região direita do quadril também possam estar presentes.

A típica migração da dor para o quadrante inferior direito do abdômen ocorre em menos de 50% dos casos. Diarreia e febre, todavia, são bem mais comuns que nos adultos. As crianças pequenas costumam apresentar febre baixa (ao redor de 37,8ºC) e ruborização das bochechas.

A frequência dos sinais e sintomas da apendicite nas crianças com menos de 5 anos é a seguinte:

Crianças com menos de 1 ano

Se a inflamação do apêndice em crianças com menos de 5 anos é incomum, o mesmo quadro em recém-nascidos e no primeiro ano de vida é ainda mais raro. Sua baixa frequência de apendicite nessa faixa etária deve-se provavelmente ao formato mais afunilado e menos propenso à obstrução do apêndice, diferente do formato mais tubular do órgão em adultos e crianças mais velhas.

A frequência dos sinais e sintomas da inflamação do apêndice nos bebês é a seguinte:

Apesar de rara, infelizmente, a mortalidade neonatal por apendicite é de quase 30%, pois o diagnóstico precoce é muito difícil, já que o quadro clínico costuma ser bem atípico. A distensão abdominal é mais comum que a própria dor abdominal, provavelmente porque bebês não conseguem comunicar-se adequadamente.

ESCORE PARA APENDICITE PEDIÁTRICA

O Escore para Apendicite Pediátrica é uma ferramenta que utiliza história, exame físico e resultados laboratoriais para categorizar o risco de apendicite em crianças com dor abdominal em uma escala de 10 pontos. A pontuação é feita através dos seguintes critérios:

Consoante a soma dos pontos, podemos estimar o risco de o quadro ser uma apendicite. Os diversos estudos já realizados encontraram os seguintes resultados:


REFERÊNCIAS


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Fonte: mdsaude.com

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