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Transtorno de personalidade narcisista: o que é, sintomas e tratamento

O transtorno de personalidade narcisista é caracterizado por uma autoestima inflada, necessidade de admiração e falta de empatia. Pessoas com esse transtorno tendem a exagerar suas realizações e a buscar constante validação.

Por Dr. Pedro Pinheiro & Dra. Claudia Miliauskas (MD Saúde)

Imagem: divulgação internet

O que é uma pessoa narcisista?

O termo narcisista pode ser utilizado de duas formas:

  1. Na linguagem médica, para descrever um transtorno psiquiátrico conhecido como transtorno de personalidade narcisista;
  2. Na linguagem coloquial, o termo narcisista pode ser utilizado para pessoas com alguns traços do transtorno de personalidade narcisista, como egocentrismo e arrogância, mas que não apresentam necessariamente os critérios para diagnóstico da doença psiquiátrica.

Neste artigo explicaremos o transtorno de personalidade narcisista.

O que é o transtorno de personalidade narcisista?

O transtorno de personalidade narcisista é definido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição (DSM-5), como um padrão predominante de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia, que começa no início da idade adulta.

As pessoas com este transtorno apresentam um senso inflado de sua própria importância e um desejo profundo por atenção e admiração excessiva. Além disso, muitas vezes carecem de empatia pelos outros e podem explorar os relacionamentos interpessoais para seu próprio benefício.

Com frequência, pessoas narcisistas superestimam suas capacidades e exageram suas conquistas, adotando habitualmente uma postura arrogante e pretensiosa. Elas podem assumir, de maneira otimista, que os outros valorizam seus esforços tanto quanto elas e se surpreendem quando não recebem os elogios que esperam e acreditam merecer. Geralmente, por trás dessas avaliações exageradas de seus próprios feitos, há uma tendência a minimizar ou desvalorizar as contribuições alheias.

Pessoas com esse transtorno frequentemente demandam uma admiração desmedida. Sua autoestima é tipicamente muito frágil. Elas costumam se preocupar bastante com seu desempenho e como são vistas pelos outros. Isso comumente se manifesta como uma necessidade contínua de atenção e elogios.

Em resumo: o transtorno de personalidade narcisista é uma condição mental em que a pessoa tem um senso inflado de sua própria importância, uma necessidade profunda de admiração e uma falta de empatia pelos outros. Apesar de uma aparência de confiança extrema, a autoestima dessas pessoas é frágil e vulnerável à menor crítica.

Critérios diagnósticos

Especificamente, o DSM-5 lista os seguintes critérios para o diagnóstico do transtorno de personalidade narcisista:

  1. Grandiosidade com expectativas de ser reconhecido como superior sem realizações proporcionais.
  2. Preocupação com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal.
  3. Crença de ser especial e único e de que só pode ser compreendido, ou deve se associar, com outras pessoas (ou instituições) especiais ou de status elevado.
  4. Necessidade excessiva de admiração.
  5. Sentido de direito, isto é, expectativas irracionais de receber tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas.
  6. Exploração interpessoal, ou seja, tirar vantagem dos outros para alcançar seus próprios fins.
  7. Falta de empatia: relutância em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades dos outros.
  8. Inveja dos outros ou crença de que os outros são invejosos de si.
  9. Comportamentos ou atitudes arrogantes e altivos.

Para ser diagnosticado com transtorno de personalidade narcisista, um indivíduo deve atender a pelo menos cinco desses critérios. Este transtorno pode causar problemas significativos nas relações sociais e ocupacionais, e as pessoas com este transtorno frequentemente não reconhecem que seus comportamentos são problemáticos e podem ser bastante desafiadoras em tratamentos.

Quem está sob risco de desenvolver o transtorno de personalidade narcisista?

A prevalência do transtorno de personalidade narcisista varia entre estudos, mas estima-se que afete de 1% a 6,2% da população geral. Uma pesquisa nacional nos Estados Unidos com 35.000 participantes encontrou uma taxa de prevalência ao longo da vida de 6,2%, sendo mais comum em homens (7,7%) do que em mulheres (4,8%). O transtorno também é mais prevalente entre adultos jovens, solteiros e certas etnias, como homens negros e mulheres hispânicas.

As causas e fatores de risco do transtorno de personalidade narcisista não são completamente compreendidos, mas acredita-se que uma combinação de influências genéticas, ambientais e experiências na infância contribua para o seu desenvolvimento.

Do ponto de vista genético, há evidências que sugerem uma componente hereditária no transtorno. Traços de personalidade herdados, como sensibilidade emocional ou tendência ao egocentrismo, podem predispor uma pessoa ao desenvolvimento de características narcisistas, especialmente quando exposta a certos ambientes.

As experiências na infância desempenham um papel significativo. Crianças que recebem admiração excessiva sem um equilíbrio realista podem desenvolver uma percepção inflada de si mesmas. Por outro lado, aquelas que enfrentam críticas constantes, desvalorização, negligência ou abuso físico e emocional podem desenvolver sentimentos de inadequação, que tentam compensar através de comportamentos de grandiosidade. Dinâmicas familiares disfuncionais, onde os pais são excessivamente permissivos ou estabelecem expectativas irrealistas, também podem influenciar o desenvolvimento de traços narcisistas nos filhos.

Fatores ambientais e sociais, como pressões culturais que valorizam excessivamente o sucesso, o status e a aparência, podem incentivar comportamentos narcisistas, reforçando a necessidade de ser admirado e reconhecido. Além disso, influências dos pares, especialmente durante a adolescência, em grupos sociais que enfatizam a competitividade e a superioridade, podem moldar atitudes narcisistas.

Fatores psicológicos internos também são relevantes. Apesar da aparência de confiança, muitos indivíduos com transtorno de personalidade narcisista lutam com sentimentos de insegurança e vulnerabilidade, usando a grandiosidade como um mecanismo de defesa. Dificuldades de apego, resultantes de problemas no estabelecimento de vínculos seguros na infância, podem afetar a capacidade de formar relacionamentos saudáveis, levando à falta de empatia e à necessidade de admiração constante.

Comorbidades

O transtorno de personalidade narcisista frequentemente ocorre junto com outros transtornos mentais. Os mais comuns são:

Sintomas

Os critérios diagnósticos do transtorno de personalidade narcisista descritos acima já dão uma boa ideia dos principais sintomas da doença. No entanto, para facilitar a compreensão, podemos resumir o quadro clínico do transtorno da seguinte forma:

Características centrais

Subtipos

  1. Subtipo altamente funcional: indivíduos que, apesar dos traços narcisistas, conseguem funcionar bem em certas áreas da vida. São competitivos, arrogantes e buscam admiração, mas podem alcançar sucesso profissional.
  2. Subtipo grandioso/exibicionista: caracterizado por arrogância aberta, necessidade de admiração e falta de ansiedade aparente. Podem ser charmosos superficialmente, mas têm dificuldades com intimidade.
  3. Subtipo vulnerável/encoberto: apresentam ansiedade, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade à crítica. A grandiosidade está mascarada por sentimentos de inferioridade.

O transtorno de personalidade narcisista está associado a um risco significativo de comportamento suicida, especialmente no subtipo vulnerável. Fatores como mudanças na vida, perdas pessoais e uso de substâncias podem aumentar esse risco.

Tratamento

Abordagem inicial

Pacientes com transtorno de personalidade narcisista podem apresentar comportamentos que dificultam o tratamento médico, esgotam os profissionais de saúde e consomem tempo e recursos da família e do próprio paciente.

Manter uma postura não julgadora e inquisitiva é essencial, evitando respostas defensivas ou agressivas. Confrontar diretamente a grandiosidade do paciente pode ser contraproducente; em vez disso, é mais eficaz utilizar as próprias palavras do paciente sempre que possível, facilitando a aceitação das recomendações clínicas. Além disso, é importante abordar gradualmente sentimentos negativos que o paciente possa ter sobre o tratamento e o terapeuta, promovendo maior compreensão e gerenciamento dessas emoções.

Ao discutir o diagnóstico, é recomendável compartilhar informações sobre os sintomas e características dos transtornos de personalidade em geral, sem necessariamente nomear imediatamente o “transtorno de personalidade narcisista”.

Focar nas disfunções centrais que caracterizam esses transtornos, como dificuldade de autoestima, problemas de intimidade e sentimentos de vazio, pode ser uma abordagem mais eficaz. Uma discussão neutra sobre a doença, seus efeitos e opções de tratamento, serve como um primeiro passo para desenvolver a aliança terapêutica. Evitar rotular prematuramente o paciente com o diagnóstico é importante, aguardando até que ele esteja mais receptivo ou até que a relação terapêutica esteja estabilizada.

Psicoterapia como tratamento de primeira linha

A psicoterapia é o tratamento de primeira linha para o transtorno de personalidade narcisista. Os principais objetivos são:

Medicamentos

Embora a psicoterapia seja o tratamento de primeira linha para o transtorno de personalidade narcisista (TPN), em casos de sintomas graves ou persistentes, pode-se considerar o uso de medicamentos para tratar sintomas específicos. Não existem fármacos aprovados especificamente para o TPN, mas algumas classes de medicamentos podem ser utilizadas para abordar certos sintomas associados:

É importante ressaltar que o uso de medicamentos no TPN visa tratar sintomas específicos e não o transtorno em si. A farmacoterapia deve ser sempre acompanhada de psicoterapia e supervisionada por um profissional de saúde mental qualificado. Cada paciente é único, e o tratamento deve ser personalizado de acordo com as necessidades individuais.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Dra. Claudia Miliauskas

Dra. Claudia Miliauskas

Médica psiquiatra. Professora adjunta de Psicologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (FCM/UERJ). Doutorado concluído pelo Instituto de Medicina Social/UERJ, departamento de epidemiologia/saúde coletiva. Mestrado em saúde materno-infantil pela Universidade Federal Fluminense. Especialização em terapia familiar sistêmica. Residência médica em pediatria e psiquiatria.

Fonte: mdsaude.com

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