21 de novembro de 2024

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Triglicerídeos: o que são, sintomas, riscos e tratamento

Tempo de leitura estimado do artigo: 6 minutos

O QUE SÃO OS TRIGLICERÍDEOS?

Os triglicerídeos, também chamados de triglicérides ou triglicéridos, são as principais gorduras do nosso organismo e compõem a maioria das gorduras de origem vegetal e animal da nossa dieta.

Os triglicerídeos estão presentes em vários alimentos, mas a maior parte que circula no sangue costuma ser produzida pelo nosso próprio organismo, através do fígado.

Os triglicerídeos funcionam como reservas energéticas em nosso corpo. Quando comemos mais calorias do que precisamos, especialmente em forma de gorduras ou carboidratos (doces, massas, pães, etc.), o corpo transforma essas calorias excedentes em triglicerídeos e as armazena no tecido gorduroso. Quando você desenvolve aquelas gordurinhas pelo corpo, como nos quadris ou na barriga, você está, na verdade, armazenando os triglicérides que estão em excesso.

Por outro lado, quando entramos em estado de déficit calórico, ou seja, quando gastamos mais calorias do que comemos, o corpo vai lá nessas reservas de triglicerídeos e as usa como meio de gerar energia.

Os triglicerídeos viajam pela corrente sanguínea acoplados a uma proteína chamada VLDL, uma lipoproteína semelhante ao HDL e LDL que transportam o colesterol pelo sangue. Quando há excesso de triglicerídeos circulando no sangue, damos o nome de hipertrigliceridemia.

Neste artigo abordaremos apenas os triglicerídeos. Se você procura informações sobre o colesterol, acesse: Colesterol: o que são HDL, LDL, VLDL e triglicerídeos?

NÍVEIS SANGUÍNEOS INDICADOS

O excesso de triglicerídeos no sangue é preocupante, pois ele está relacionado à deposição de gorduras nos vasos, um processo chamado aterosclerose, que é a origem das doenças cardiovasculares.

No entanto, como veremos mais adiante, correlação não necessariamente implica em causalidade. O fato de pacientes com níveis elevados de triglicerídeos apresentarem maior incidência de eventos cardiovasculares, não é evidência de que os triglicerídeos sejam a causa desses eventos.

Os níveis sanguíneos de triglicerídeos são classificados da seguinte forma pela National Cholesterol Education Program, Adult Treatment Panel III (NCEP ATP III):

  • Normal: abaixo de 150 mg/dL.
  • Moderado: entre 150 e 199 mg/dL.
  • Alto: entre 200 e 499 mg/dL.
  • Muito alto: maior ou igual a 500 mg/dL.

Já a Sociedade Americana de Endocrinologia propõe uma classificação diferente, dividida em 5 estágios:

  • Normal: abaixo de 150 mg/dL.
  • Leve: entre 150 e 199 mg/dL.
  • Moderada: entre 200 e 999 mg/dL.
  • Alto: entre 1000 e 1999 mg/dL.
  • Muito alto: acima de 2000 mg/dL.

CAUSAS

Os níveis de triglicerídeos podem se elevar por vários motivos. Algumas pessoas apresentam alterações genéticas que predispõem à hipertrigliceridemia, outras desenvolvem hipertrigliceridemia devido a uma dieta hipercalórica ou à presença de determinadas doenças.

Entre as condições que mais frequentemente provocam hipertrigliceridemia estão:

O uso regular de alguns medicamentos também pode provocar um aumento dos triglicerídeos:

O aumento dos triglicerídeos pode ou não vir acompanhado de alterações no colesterol. As duas situações mais comuns são triglicerídeos e LDL (colesterol ruim) elevados ou triglicerídeos elevados e HDL (colesterol bom) baixo. A elevação isolada dos triglicérides, sem alterações do colesterol, não é muito comum.

Existem algumas formas de hipertrigliceridemia familiar, alterações de origem genética que fazem com que o paciente produza triglicerídeos em excesso, independentemente da sua dieta. Nesses caso, é possível que o paciente apresente níveis graves de triglicerídeos, às vezes acima dos 1000 mg/dL.

DIETA

Uma dieta rica em gorduras saturadas e carboidratos é um importante fator de risco para hipertrigliceridemia.

Pessoas com hipertrigliceridemia devem evitar o consumo regular de:

  • Refrigerantes ou qualquer outra bebida rica em açúcar.
  • Bebidas alcoólicas.
  • Doces.
  • Chocolate.
  • Pão.
  • Biscoitos.
  • Massas.
  • Pizzas.
  • Batata.
  • Sorvetes.
  • Frozen yogurt.
  • Tortas.
  • Bolos.
  • Leite integral.
  • Frituras.
  • Queijos gordurosos.

Quando for comprar comida, procure ler as informações nutricionais no verso de cada alimento e evite produtos ricos nos seguintes açúcares:

  • Sacarose.
  • Glicose.
  • Frutose.
  • Xarope de milho.
  • Maltose.
  • Melaço.

A lista de alimentos acima está longe de estar completa. Qualquer alimento rico em carboidratos ou gorduras saturadas pode causar aumento dos triglicerídeos. Mais adiante, na parte de tratamento da hipertrigliceridemia, daremos algumas dicas sobre a dieta para baixar os triglicerídeos.

SINTOMAS

Via de regra, a hipertrigliceridemia não provoca sintomas. É impossível saber se seus triglicerídeos estão altos ou baixos sem realizar exames de sangue.

Porém, os pacientes com as formas familiares de hipertrigliceridemia, geralmente com valores de triglicérides cronicamente acima dos 800 mg/dL, podem apresentar xantomas.

Xantomas são depósitos subcutâneos de colesterol sob a forma de nódulos ou placas amareladas. Essas lesões surgem frequentemente nas palmas, ao redor dos olhos, nos pés ou nas articulações.

Xantomas na pele - hipertrigliceridemia
Xantomas na pele

PERIGOS DOS TRIGLICERÍDEOS ALTOS

Pancreatite

A principal complicação associada aos níveis elevados de triglicerídeos é a pancreatite aguda. No entanto, a pancreatite só ocorre em níveis muito elevados de hipertrigliceridemia. O risco maior surge a partir dos 500 mg/dL, mas se torna realmente perigoso acima de 1000 mg/dL.

A pancreatite aguda é uma condição inflamatória do pâncreas, que pode resultar em dor abdominal severa, náuseas, vômitos e, em casos graves, complicações com risco de vida.

Esteatose hepática

esteatose hepática, conhecida também como fígado gordo, é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado, que pode levar à inflamação e danos hepáticos.

Níveis elevados de triglicerídeos podem levar ao aumento da deposição de gordura no fígado, o que, por sua vez, pode exacerbar a inflamação e as lesões hepáticas.

Tanto a hipertrigliceridemia quanto a esteatose hepática compartilham fatores de risco comuns, tais como obesidade e resistência à insulina. Em alguns casos, a abordagem desses fatores de risco subjacentes pode ajudar a melhorar ambas as condições.

Eventos cardiovasculares

Essa é a relação mais controversa. Não há dúvidas que pacientes com hipertrigliceridemia apresentam um maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, particularmente doenças coronarianas e AVC.

A questão, no entanto, é se os altos níveis de triglicerídeos colaboram diretamente para as doenças cardiovasculares ou são apenas um indicativo de risco elevado, dado que diversos fatores de risco cardiovascular provocam níveis elevados de triglicerídeos no sangue, como diabetes, obesidade, consumo de álcool e insuficiência renal crônica.

Todos os estudos mais recentes que tentaram mostrar que o tratamento da hipertrigliceridemia reduz o risco cardiovascular falharam. Ao contrário do que ocorre com o tratamento do colesterol LDL, do diabetes e da obesidade, que sempre demonstram redução da mortalidade, a simples redução dos valores dos triglicerídeos no sangue não resulta em redução de mortalidade cardiovascular.

Portanto, ao que tudo indica, níveis de hipertrigliceridemia acima de 150 mg/dL parecem ser um marcador de risco cardiovascular, mas o simples uso de medicamentos para redução dos triglicerídeos não parece oferecer nenhuma redução do risco cardiovascular.

TRATAMENTO

O controle da hipertrigliceridemia deve sempre incluir modalidades de tratamento que sabidamente são benéficas para pacientes com alto risco cardiovascular, como dieta balanceada, prática de exercícios físicos, perda de peso, controle do diabetes e controle do colesterol LDL e HDL.

Não basta baixar apenas os valores de triglicerídeos, é preciso atacar os fatores de risco para doença cardiovascular.

Dieta para baixar os triglicerídeos

Em relação à dieta, como já referido anteriormente neste texto, pacientes com hipertrigliceridemia devem evitar alimentos ricos em carboidratos e gorduras.

Dê preferência a alimentos ricos em fibras, peixes e alimentos ricos em gordura insaturada e pobre em gorduras saturadas. Escolha pães, biscoitos e cereais que contenham aveia, grãos integrais, cevada, milho, arroz ou trigo como primeiro ingrediente. Opte por arroz integral e massas à base de trigo integral. Nas bebidas, evite o álcool e prefira os refrigerantes diet. O leite deve ser desnatado.

Quando consideramos baixar o colesterol LDL, o mais importante é evitar alimentos gordurosos. Quando ponderamos baixar os triglicerídeos, limitar o consumo de carboidratos e calorias é o mais efetivo.

Remédios para baixar os triglicerídeos

Os fibratos (genfibrozila ou fenofibrato) são os fármacos mais específicos para reduzir níveis de triglicerídeos, podendo alcançar reduções de até 70% em alguns casos. Esses medicamentos, porém, não agem sobre os valores de colesterol. Se o paciente tiver LDL elevado, uma estatina também se faz necessária.

Se houver necessidade de associar uma estatina a um fibrato, o fenofibrato deve ser o medicamento de escolha, pois apresenta menos riscos de lesão muscular.

Até pouco tempo atrás, indicávamos medicamentos para os pacientes com triglicerídeos acima de 200 mg/dL, principalmente se o colesterol LDL também estivesse elevado. Era comum vermos pacientes medicados com uma estatina para baixar o colesterol e um fibrato para controlar os triglicerídeos.

Com a falha dos estudos mais recentes em demonstrar benefícios cardiovasculares com o tratamento com fibratos, a tendência atual é dar preferência apenas às estatinas, dado que essas também apresentam efeito redutor dos triglicerídios (apesar de menor que os fibratos).

Estatinas de alta potência, como rosuvastatina e atorvastatina, podem reduzir os níveis de triglicéridos em até 40% ao mesmo tempo que baixam os níveis de LDL e são comprovadamente eficazes em reduzir o risco cardiovascular. Não há evidência de que associar um fibrato para reduzir ainda mais os triglicerídeos traga alguma vantagem do ponto de vista de redução do risco cardiovascular.

A tendência atual é reservar os fibratos apenas para aqueles pacientes com hipertrigliceridemia grave, com elevado risco de pancreatite.

É importante destacar que o uso de remédios para controlar a hipertrigliceridemia de modo algum exclui a necessidade do paciente mudar hábitos de vida. Se não houver controle na dieta, perda de peso, controle do diabetes e aumento da carga de exercícios físicos, o benefício do tratamento farmacológico ficará aquém do desejado.

Suplementos ricos em óleo de peixe (ômega 3) também são efetivos para redução da hipertrigliceridemia. Para haver efeito, as doses devem ser elevadas, acima de doses 3 gramas por dia de ácido eicosapentaenoico/ácido docosaexaenoico (EPA/DHA), o que significa pelo menos 4 cápsulas por dia. Alguns pacientes não toleram doses muito altas de óleo de peixa, apresentando diarreia e cólicas abdominais (leia: Ômega 3 – Benefícios para a saúde).

DÚVIDAS COMUNS

Para que servem os triglicerídeos?

Os triglicerídeos servem principalmente como uma fonte de armazenamento e fornecimento de energia para o corpo. Eles são um tipo de gordura encontrados no sangue e armazenados no tecido adiposo. Quando o corpo precisa de energia extra, por exemplo, entre as refeições ou durante atividades físicas, ele recorre aos triglicerídeos armazenados e os converte em energia utilizável.
Além disso, os triglicerídeos desempenham um papel importante no transporte e absorção das vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K), que necessitam de gordura para serem absorvidas adequadamente pelo organismo.

Qual é a taxa normal de triglicerídeos no sangue?

Apesar de existirem diferentes classificações em relação aos valores dos triglicerídeos no sangue, todas elas concordam que os níveis normais são aqueles abaixo de 150 mg/dL (1,7 mmol/L).

Quais são os riscos dos triglicerídeos altos?

Pacientes com níveis sanguíneos de triglicerídeos acima de 200 mg/dL apresentam maior risco de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC. Isso, no entanto, não significa que a causa dessas doenças sejam os triglicerídeos. Eles parecem ser mais um marcador de risco cardiovasculares do que um causador direto.

Nos pacientes com triglicerídeos acima de 500 mg/dL, há um maior risco de pancreatite aguda.

Qual é a diferença entre triglicerídeos e colesterol?

Triglicerídeos e colesterol são ambos lipídios, mas têm funções diferentes no corpo. Triglicerídeos são a principal forma de armazenamento de energia, enquanto o colesterol é essencial para a formação das membranas das nossas células, para a síntese de hormônios (como a testosterona, estrogênio e cortisol), para a produção da bile, para digestão de alimentos gordurosos, para formação da mielina (uma bainha que cobre os nervos), para metabolização de algumas vitaminas, etc.

Eles também são transportados no sangue de maneira diferente: triglicerídeos são transportados principalmente como lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), enquanto o colesterol é transportado como lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de alta densidade (HDL).

O que provoca o aumento dos triglicerídeos?

Níveis elevados de triglicerídeos podem ser causados por diversos fatores, incluindo obesidade, dieta com excesso de gorduras ou carboidratos, consumo excessivo de álcool, diabetes não controlada, hipotireoidismo, doenças renais e predisposição genética. Além disso, certos medicamentos, como corticosteroides, diuréticos tiazídicos, betabloqueadores e estrogênios, também podem aumentar os níveis de triglicerídeos.

Quais alimentos que fazem mal aos triglicerídeos?

Em geral, carboidratos e gorduras, mas qualquer dieta hipercalórica pode levar ao aumento dos triglicerídeos. Alguns exemplos:
• Açúcares refinados: alimentos ricos em açúcares refinados, como doces, bolos, refrigerantes e outros alimentos processados.
• Carboidratos simples: consumir grande quantidade de carboidratos simples, como pão, arroz e massas refinadas.
• Gorduras trans: gorduras trans são encontradas principalmente em alimentos processados, como biscoitos, bolos e margarina. Elas aumentam os níveis de triglicerídeos e o colesterol ruim (LDL) enquanto diminuem o colesterol bom.
• Álcool: bebidas alcoólicas podem elevar os níveis de triglicerídeos, especialmente em pessoas predispostas a ter níveis elevados de triglicerídeos.
• Gorduras saturadas: alimentos ricos em gorduras saturadas, como carnes gordas, produtos lácteos integrais e óleo de coco, podem aumentar os níveis de triglicerídeos.
• Alimentos fritos e processados: batatas fritas e fast food são ricos em gorduras não saudáveis que podem elevar os níveis de triglicerídeos.

Estresse pode causar aumento dos triglicerídeos?

Não há evidências de que o estresse sozinho provoque elevação dos triglicerídeos. No entanto, o estresse pode provocar mudanças no estilo de vida do paciente, fazendo com que o mesmo beba mais, coma de forma mais intensa e menos saudável, faça menos exercícios, etc.

Café aumenta os triglicerídeos?

Não há evidências que o café sem adição de açúcares ou cremes tenha influência direta nos níveis de triglicerídeos.

Quanto tempo uma pessoa leva para baixar os triglicerídeos?

Com remédios, são necessários pelo menos 30 dias para se notar alguma redução. Em geral, 90 dias são necessários para uma redução relevante. Por outro lado, se o tratamento for só com mudanças de hábito de vida, como dieta e exercícios, são necessários pelo menos 3 a 6 meses para termos uma redução relevante.

Beber mais água ajuda a baixar os triglicerídeos?

Não diretamente. Mas se você substituir refrigerantes açucarados por água, aí sim, notará uma queda nos níveis de triglicerídeos.


REFERÊNCIAS


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Fonte: mdsaude.com

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