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Após 30 dias do Dia D de Contratação de PCDs, baixa adesão às vagas ofertadas expõe entraves à inclusão profissional

Mesmo com 408 oportunidades de emprego disponíveis em Goiás, apenas três pessoas seguem contratadas um mês após o Dia D da Contratação de Pessoas com Deficiência, promovido por SEAC-GO e SINDESP-GO

Trinta dias após a realização do Dia D da Contratação de Pessoas com Deficiência (PCD), promovido pelo Sindicato das Empresas de Asseio, Conservação, Limpeza Urbana e Terceirização de Mão de Obra do Estado de Goiás (SEAC-GO) em parceria com o Sindicato das Empresas de Segurança Privada, de Transporte de Valores e de Cursos de Formação do Estado de Goiás (SINDESP-GO), o balanço da ação evidencia um dos principais desafios das políticas de inclusão no mercado de trabalho: a baixa adesão de candidatos às vagas disponíveis. Com 408 vagas disponibilizadas, apenas três pessoas seguem contratadas.

Imagens: divulgação internet

Realizado em 11 de novembro, o evento disponibilizou oportunidades de emprego em diferentes funções nos setores de asseio, conservação, vigilância e segurança privada. Apesar da ampla oferta e divulgação e da realização em ambiente público, acessível e com estrutura inclusiva, apenas oito pessoas compareceram, sendo uma delas sem deficiência. Entre os sete candidatos com deficiência entrevistados, três permanecem empregados após 30 dias. As demais candidaturas não avançaram, principalmente, por fatores relacionados à localização dos postos de trabalho, horários oferecidos, dificuldades de deslocamento e falta de interesse nas vagas disponíveis.

Vagas disponíveis, mas dificuldade de preenchimento

Segundo o presidente do SEAC-GO, Paulo Gonçalves da Silva, o balanço dos 30 dias mostra que a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é um processo complexo, que vai além da simples abertura de vagas. “As empresas participantes disponibilizaram oportunidades reais e imediatas, mas os dados demonstram que a efetivação das contratações depende de uma série de fatores, como a compatibilidade entre o perfil do candidato e a função ofertada, as condições de deslocamento, os horários de trabalho e o interesse em dar continuidade ao processo seletivo. A inclusão exige articulação, diálogo e ações contínuas”, afirma.

A ação que é realizada anualmente integra um esforço permanente das entidades sindicais para aproximar pessoas com deficiência das oportunidades existentes, fortalecer o diálogo social e estimular a construção de um mercado de trabalho mais inclusivo, acessível e equilibrado. Na edição anterior do evento, realizada em 2024, as empresas ofertaram mais de 530 vagas, mas apenas 31 candidatos participaram — 28 deles pessoas com deficiência. Após um mês, sete contratações foram efetivadas. O cenário reforça um desafio persistente no mercado: a dificuldade em aproximar pessoas com deficiência das oportunidades de trabalho disponíveis.

Para o presidente do SINDESP-GO, Ivan Hermano Filho, o balanço do Dia D reforça a importância de manter a pauta da inclusão como um compromisso contínuo. “O setor produtivo tem demonstrado disposição para abrir portas e criar oportunidades reais para as pessoas com deficiência. Ao mesmo tempo, os números mostram que a inclusão no mercado de trabalho é um caminho que precisa ser construído de forma permanente, com diálogo, informação e engajamento de toda a sociedade. Seguiremos trabalhando para fortalecer esse ambiente e ampliar as possibilidades de acesso e permanência no emprego formal”, destaca.

Setor produtivo reforça compromisso, mas aponta entraves estruturais

Os dados ajudam a dimensionar a complexidade do desafio. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiás concentra cerca de 482 mil pessoas com deficiência, o equivalente a 7% da população com dois anos ou mais de idade, sendo 7,8% mulheres e 6,2% homens. Ainda assim, mesmo diante da ampliação das vagas e do avanço de políticas públicas voltadas à inclusão, a inserção efetiva desse público no mercado de trabalho formal segue enfrentando obstáculos significativos.

Informações do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) indicam que mais de 101 mil goianos recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) destinado às pessoas com deficiência. Embora o benefício cumpra um papel social fundamental de proteção, os dados revelam um desafio estrutural: como transformar o amparo assistencial em autonomia, protagonismo e inserção produtiva sustentável. A dependência exclusiva do benefício, associada a fatores como mobilidade urbana limitada, falta de orientação profissional, incompatibilidade de perfis e receio de perder direitos, ainda dificulta a aproximação entre trabalhadores e oportunidades existentes.

Por Luciana Porto

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