ESTIAGEM: Parceria entre indústria e produtores de leite garante produtividade do pasto, mesmo em períodos de seca
Muitos produtores rurais certamente serão afetados pelo extenso período de estiagem percebido nos últimos meses, mas em Goiás, um projeto desenvolvido por empresa de laticínios, tem ajudado a manter produção mesmo nessa época
De acordo com o mais recente Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 5 milhões estabelecimentos agropecuários, setor que em 2023 foi responsável por quase 24% do produto interno bruto (PIB) nacional, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). À frente desses estabelecimentos rurais, tão importantes para a nossa economia, temos certamente milhares de produtores sujeitos aos impactos impostos por extensos períodos de seca e o enorme número de queimadas registrados na maior parte do país.
Encontrar soluções que mantenham a produtividade, mesmo ante às fortes adversidades climáticas deste ano, é o desafio urgente dos produtores rurais brasileiros, já que segundo o portal meteorológico Climatempo, as altas temperaturas e a estiagem devem continuar até o fim de outubro em várias regiões do país. Nesse cenário, torna-se de suma importância parcerias entre produtores rurais e indústrias que trabalham com insumos agrícolas, como as do setor de alimentação.
Na cidade de Hidrolândia, em Goiás, uma indústria de laticínios traz um bom exemplo como a cooperação e as inovações em sustentabilidade podem fazer a diferença. Desde 2018, a Marajoara Laticínios desenvolve um projeto em parceria com produtores rurais locais, que garante produtividade para eles e uma gestão eficiente dos resíduos produzidos pela indústria.
Por meio de uma estação de tratamento de efluentes (ETE), instalada no parque fabril da empresa, a Marajoara não só consegue tratar de forma correta toda a água residual oriunda dos deus processos de produção, como ajuda os produtores de leite local a manterem a produtividade do pasto, mesmo em períodos de grande seca como o atual.
Nutrientes para o pasto
De acordo com Vinícius Junqueira, gerente de marketing da Marajoara, isso é possível graças ao processo de flotação de ar dissolvido (FAD) que é usado pela ETE para tratar a água residual da indústria. “Nesse processo a água é purificada a um nível superior a 90%, bem acima do que exige a legislação ambiental. Dessa separação entre a água e as impurezas, é gerado uma biomassa orgânica que é rica em nutrientes que são importantíssimos para o solo. No passado, nós a direcionávamos para uma fazenda de compostagem, mas depois de constatarmos, por meio de estudos, que ele poderia adubar o solo, nós passamos a direcionar, por meio de caminhões pipa, a biomassa para pastos de produtores rurais que temos cadastrados aqui na empresa”, explica Vinícius.
Segundo ele, o uso da biomassa traz uma significativa melhora para a produtividade e qualidade da alimentação dos animais. “Antes desse projeto, essa biomassa era encaminhada para fazendas de compostagem, mas hoje, além de eliminar este custo operacional com o transporte desse resíduo, o reaproveitamos da melhor maneira possível, ajudando pequenos produtores inclusive nesta época de seca”, afirma o gerente.
Também faz parte do projeto da biomassa, uma análise periódica do solo onde ela é aplicada, com o objetivo de avaliar a eficácia da solução fertilizante. “A partir de testes com o capim brachiaria, o mais usado na região, conseguimos elevar o percentual de proteína da pastagem de 8,5% para 13%”, relata Vinícius, que garante que essa ação fortalece, de forma sustentável, a cadeia produtiva do leite.
Pasto irrigado com água de reaproveitamento
Foi a partir do projeto da biomassa, gerada após o tratamento da água usada nos processos fabris da Marajoara, que uma outra ação de sustentabilidade ambiental surgiu, o projeto de Fertirrigação. Vinícius explica que depois de ter conseguido uma destinação ecologicamente correta para o resíduo furto do tratamento dos efluentes, que é a biomassa, a empresa conseguiu um destino ainda mais sustentável para a água que era devidamente tratada na ETE da indústria.
“Após a água passar pela nossa ETE, ela era lançada no Córrego Grimpas. Porém, com o projeto de fertirrigação foi possível encontrar um destino mais sustentável para a água. Instalamos três bombas e tanques de água próximo a uma área de pasto que temos aqui bem perto da indústria. Usando mais de um quilômetro de tumulações direcionamos essa água, já tratada e com um grau de pureza de 96%, bem acima dos 60% exigidos pela legislação ambiental, direcionamos esse recurso hídrico para esse pasto, por meio de um sistema de irrigação composto por cerca 600 aspersores. Essa água mantém o pasto sempre verde, inclusive nas épocas de seca, e também abastece o lençol freático”, Vinícius.
Segundo ele, em média, serão jorradas no local 75 mil litros de água por hora, a cada 12 horas, são um milhão de litros de água de reuso reaproveitados, sendo que cada um dos 600 aspersores lança a água a um raio de 11 metros de distância, fazendo com que cada gota de água seja muito bem aproveitada.
Ambos projetos foram avaliados e validados por meio de um estudo técnico feito pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás. Em 2021, a iniciativa foi uma das premiadas nacionalmente pelo Crea Goiás de Meio Ambiente, sendo a grande ganhadora na categoria Elementos Naturais.
- Hugol, unidade de saúde do Governo de Goiás, realiza captação de 8 órgãos de um único doador
- Suspeitos de fraudarem empréstimos da Caixa Econômica Federal são investigados pela Polícia Federal
- Supremo Tribunal Federal adia decisão sobre lei que impõe restrições para laqueadura
- Desempenho republicano pode facilitar aprovação de projetos de Trump
- Projeto de Lei quer etanol como combustível padrão em carros oficiais