MAC Goiás recebe exposição inédita de Kboco com 135 obras a partir desta quinta-feira (12)
Mostra ‘Eu Não Vou Passar Em Branco’ segue até 29 de setembro com assemblages, esculturas, pinturas em madeira e intervenções feitas diretamente no museu que incorporam elementos do cerrado e do orientalismo
A partir de 12 de setembro, o renomado artista visual Kboco apresenta sua exposição individual ‘Eu Não Vou Passar em Branco’ no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), localizado no Centro Cultural Oscar Niemeyer. A mostra, que fica em cartaz até o dia 29 do mesmo mês, reúne 135 obras em técnicas e suportes variados que exploram a intersecção entre o ambiente urbano e a natureza. A visitação é gratuita e pode ser realizada todos os dias da semana, das 14h às 20h. A abertura está marcada para às 18h.
Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição reflete a profunda conexão de Kboco com o cerrado e com os ambientes urbanos, através de obras que não apenas capturam a essência dessas paisagens, mas também criam um diálogo visual e conceitual entre esses dois mundos distintos. O público terá a oportunidade de conferir assemblages, esculturas e pinturas em madeira, além de intervenções site-specific que dialogam com o espaço expositivo do MAC Goiás.
Nesta exposição, Kboco utiliza materiais e formas que evocam a transformação e a relação entre os contextos urbano e natural, oferecendo aos espectadores uma experiência que questiona e celebra a coexistência desses elementos. A mostra é realizada com recursos da Lei Paulo Gustavo do Governo Federal operacionalizado pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura.
Biodiversidade do Cerrado
Kboco dedicou os últimos sete anos à pesquisa, produção e vivência no cerrado, mais especificamente em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. As esculturas que compõem a exposição “Eu Não Vou Passar Em Branco” são feitas, em sua maioria, de madeiras coletadas ocasionalmente pelo artista em Goiás, seja nas ruas ou na própria natureza oriunda da paisagem seca e diversificada do cerrado. Peças essas que, apesar de separadas e autônomas a princípio, ganham um novo significado estético ao serem rearranjadas organicamente pelo artista. A utilização da madeira como suporte do trabalho de Kboco aponta seu interesse para o passado e pelas formas espirituais adotadas por culturas não ocidentais, ressaltando, inclusive, seu poder simbólico tanto nos campos político e espiritual quanto cultural.
Em seu texto crítico, o curador Felipe Scovino salienta que Kboco acaba por constituir uma relação intrínseca entre visualidade plástica e paisagem, o que acentua o caráter de originalidade da obra. “Chama ainda a atenção nesses trabalhos feitos em madeira e numa relação própria com a biodiversidade do cerrado, a crueza, isto é, Kboco imprime cores e gestos sobre a madeira mas mantém também o seu aspecto original. Interessa ao artista, me parece, manter um vínculo com a terra, deixar aparente os veios da madeira mas também uma certa atmosfera rústica, crua como é o cerrado, no sentido de balancear referências eruditas da arte mas também de saberes e conhecimentos de culturas marginalizadas e rurais”, destaca.
Expografia: articulação e organicidade
O arquiteto Fernando Maculan, conhecido por sua expertise na relação entre arquitetura e cultura, especialmente nos projetos para o museu Inhotim desde sua fundação em 2006, é o responsável pela expografia da exposição ‘Eu Não Vou Passar Em Branco’, em parceria com o arquiteto João Facury.
Nesta mostra de Kboco, a grandiosidade das obras tridimensionais e de maior porte tomam conta do ambiente e a madeira assume o protagonismo. A organização rizomática da expografia no espaço é outro destaque. Apesar da ausência de uma ordem aparente, essa disposição revela uma lógica fragmentada e, acima de tudo, orgânica, que dialoga com os galhos retorcidos da vegetação típica do cerrado.
Outro aspecto singular do projeto reside na maneira como as obras se organizam e se conectam, como se eles se articulassem. Maculan destaca que essa organização espacial reflete um traço marcante da obra do Kboco: a interconexão e o fortalecimento sistêmico de suas obras. “É uma proposta de transformação do espaço expositivo em uma exposição mais viva”, ressalta Maculan.
Sobre Kboco
O artista visual Márcio Mendanha de Queiróz, conhecido artisticamente como Kboco (@kboco23), nasceu em 1978 em Goiânia/GO e soma mais de 25 anos de produção. Aprendeu a pintar como autodidata e, desde a infância, o contato com a cultura hip hop nas ruas de sua cidade natal o levou a expandir o universo de suas pinturas para além das molduras das telas. Com características bastante particulares e uma impressionante capacidade de absorver e reinterpretar influências extremamente díspares, que vai de Burle Marx e Rubem Valentim a Basquiat, seu trabalho se alimenta de diferentes registros e procedimentos, promovendo uma fusão de tempos e lugares distintos.
Suas telas, desenhos e instalações harmonizam elementos que parecem pertencer a universos distintos, utilizando referências claras à arquitetura e à arte mourisca, bem como à rica padronagem dos tecidos e aos símbolos. O artista também soma elementos das culturas pré-colombianas e árabes, especialmente o simbolismo dos padrões geométricos das mesquitas que visitou no sul da Espanha. Ademais, o orientalismo de sua produção advém do apreço pelos vencidos, pelas culturas subjugadas pela civilização ocidental ou marginalizadas por questões sociopolíticas.
Kboco já realizou exposições individuais em São Paulo, Curitiba e Nova York; pintou murais nas ruas de diversas cidades brasileiras e em outros países como Chile, Espanha, Alemanha, Estados Unidos e Itália; expôs na 29ª Bienal de São Paulo e realizou trabalhos em Portugal, à convite da Fundação Gulbenkian e do Centro Cultural José dos Bois.
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