“569”, composta e gravada por Fred Le Blue Assis, doutor em Planejamento Urbano pelo IPPUR e pesquisador de territórios culturais do TECCER (fundador do MOVimento ARTetetura & HUMANismo), é um manifesto a favor da desfragmentação espacial e do empoderamento popular do bem comum que é o espaço público da “cidade partida” de Zuenir Ventura (Rio de Janeiro). A canção aponta para uma resposta micropolítica à violência urbana (tragédia do ônibus 174) através da música por meio de uma abordagem terapêutica, que tenta catalisar um resgate da sociabilidade urbana, da comunicação não-violenta e da cultura de paz, na tentativa de combater a anomia e paranoia social, perpetuada nos comportamentos públicos e pelos discursos sociais sobre o Rio.
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A letra e a musicalidade eclética sugerem uma metalinguagem da multipli’cidade de vozes e olhares urbanos. O meio de transporte (ônibus) é aqui representado como um meio de comunicação também, inclusive de expressão artística, e socialização interpessoal. A narrativa documentarística da odisséia urbana que é narrada em “569”, a partir de experiências etnográficas, no contexto histórico político das lutas por valores de passagens acessíveis e justos ( Movimento Passe Livre), desperta para a possibilidade de uma contrahegemonia possível através da interface da sustentabilidade com direitos humanos. A defesa conexa da mobilidade, ecologia e sociabilidade urbana passa pela maior massificação do uso do transporte público, pois que, por meio disso, evita-se congestionamentos poluentes, catalisados pelos excessos de carros, mas também o atrofiamento do sentido sensorial afetivo do espaço urbano e cotidiano.
569 é assim uma canção plástica de intervenção urbanística que mistura, essencialmente, as linguagens artísticas e sentidos humanos através de um descondicionamento dos padrões mentais preconceituosos que impedem a experiência da alteridade. A canção poética e política do coletivo, ao apontar para uma possibilidade pedagógica de relativização da segregação social simbólica espacial, revela a possibilidade reapropriativa do espaço público comum, enquanto lugar de pertencimento psicogeográfico. O ônibus, no entanto, está em constante trânsito, devido ao seu caráter dinâmico mecânico e antropológico e, por isso, é em si instrumento biopolítico potente contra esta desumanização corporal e social da cidade. Nesse sentido, os valores estéticos e éticos são estruturais dessa experiência musical expandida por permitir uma sinergia sincrética de linguagens e cenários plurais: ciência e arte, casa e rua, eu e outro, corpo e espírito, Zona Sul-Zona Norte, Brasil-América Latina, saber e universidade, cotidiano e teoria, política-poesia, música-cinema, espaço-tempo, paz e voz (atitude), masculino e feminino, ciências exatas e ciências humanas, cultura de massa e cultura erudita, arte e educação, arte e terapia, arte-educação e arte-terapia, underground e indústria cultural.
Enquanto crônica musical, suscita indiretamente a resiliência política também, já que a gestão da cidade em uma democracia representativa não deve isentar de participação direta os cidadãos do grande coletivo de brasileiros nas ruas e nas redes. Direito de ir e vir, à igualdade na diferença e o de liberdade de expressão e manifestação podem pegar carona nesse “circular” em que é a vida em deslocamento nas grandes cidades e, que, por isso, devem também se tornar sustentáveis, em aderência aos apelos socioambientais globais.
569 (Oniblues da Paz)”
Letra e Música: Fred Le Blue Assis
Rua das Laranjeiras, pego o 569
Em meia hora se transforma todo o meu astral.
Não só porque do lado, uma jovem da PIPUC.
É que lá dentro todo dia nasce um natal.
Digo à moça que tenho poderes pra acessar
O seu inconsciente sem nem saber o seu nome.
Ela me olha com bochechas bem arregaladas,
Ao que reajo rápido, foi só uma piada.
Me confessou cansada de estudar pra tirar 10
Em troca disso, receber só metade da sua meta.
Na certa, os professores estão fazendo economia,
O mesmo curso que ela faz pra minha alegria.
Pois estava eu com as 6 cordas no pescoço,
Sem entender direito os mil “burratos” no meu bolso,
Mas quanto a isso eu sei,
Que eu não posso fazer nada.
Apenas perguntar se ela quer ser minha empresária.
Diga “sim” a paz,
Os ônibus estão dizendo.
E se for capaz,
Entre nesse movimento
Pelo “sim” da paz.
Não é complicado,
Basta dizer “sim”
(“_sim, sim, sim,…”).
Na Jardim Botânico, ao descer, vejo uma flor,
E mesmo, à distância, me fareja o seu perfume.
Malemolentemente, fica o lógus a ficar:
“_Pra onde vai o vento, onde está, cadê o ar”?
Além de fulô, mia flor, é uma estrela de TV,
Mas pra ser discreto, não falarei o seu nome.
Disse, na verdade, que é que lhe dá prazer:
“Dançar cinema novo novo com um mais um, dois homens.
Me apresento a ela “Codinome Beija-Flor”.
Coincidência essa que a fez mudar de rua.
Despetalado eu, fico na saudade em vão.
Aprendo bossa-nova e retalho uma canção.
“Chega de Saudade”,
Todos já estão sedentos.
E se for capaz,
Entre nesse movimento
Pelo, “sim” da paz.
Não precisa “~”
Para dizer “sim”.
Diga “sim” à paz!
Diga “sim” rapaz!
Na frente do Parque Lage
Eu construo uma cidade.
Na frente do Parque Lage (Lalalalalala-Lage).
Só há uma saída para o beco sem saída.
ARTIGO:
“Musicoterapia e Cultura de Paz no Rio de Janeiro: uma viagem musical educativa através da canção “569, Oniblue da Paz” de Fred Le Blue
Resumo: Análise (auto)etnográfica e musicoterapêutica da música pacifista no Rio, “569, o Ôniblue da Paz”, lançada em 2009 no contexto social de radicalização entre políticas públicas urbanas de pacificação no Rio (UPP e UPP Social) e movimentos sociais de luta pelo acesso cultural (Catraca Livre), bem como, pela mobilidade urbana (Passe-Livre) em São Paulo, Rio de Janeiro e no Brasil. A presente investigação antropológica musical tem como objetivo abordar o papel ambivalente da música entre a improvisação e a técnica, entre a vida e a obra, e entre a terapia e o trauma, com ênfase na possibilidade de uso sociocultural e educomunicativo da musicoterapia, enquanto tecnologia mental-ecológica de paz para o combate da violência urbana e para o empoderamento narrativo da luta por direitos à diferença e direito à cidade. Como resultado o presente trabalho, permite apontar para o papel da para sociabilidade no espaço público como catalisadora da cidadania plena e paz social.
Por Fred Le Blue
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